Responda rápido: em que grid podem estar, ao mesmo tempo, os presidentes da Volkswagen e da Aston Martin; oito pilotos que largaram em pelo menos um GP de Fórmula 1 (um deles com vitória no currículo), os dois últimos vencedores do Paris-Dakar, três campeões do DTM, dois brasileiros, uma penca de jornalistas e representantes de Alemanha, Itália, França, Suíça, Bélgica, Nova Zelândia, Austrália, Japão, Finlândia, Suécia, Argentina, Portugal, Luxemburgo, Noruega, Estados Unidos, Rússia, Holanda, Áustria, Dinamarca, Emirados Árabes, Espanha, México, Hong Kong, Ucrânia e Mônaco (ufa…)?
Só pode ser uma prova com muita gente participando, de preferência num circuito igualmente gigantesco. Como as 24h de Le Mans já ficaram para trás, a resposta não é difícil: as 24h de Nurburgring, cujos treinos começam nesta quinta-feira, no gigante traçado das montanhas de Eiffel – o Nordschleife (circuito norte), também conhecido como o “Inferno Verde”, com seus 25,359 quilômetros e 73 curvas – 33 à esquerda e 40 à direita. Apenas um cenário como esse seria capaz de receber os 208 carros (sim, você não leu errado), com pilotos de currículos dos mais variados e todos os tipos de máquina. Lembra da P4/5, a reinvenção da Ferrari 330 bancada pelo milionário norte-americano Jim Glickenhaus que não é reconhecida oficialmente pela casa de Maranello? Sim, estará lá, ao lado de dezenas de Porsches, Audis, Mercedes, BMWs, vários Minis, ao lado de antigos VW Golf, Opel Manta e Renault Clio. Levando na brincadeira, dá para dizer que é a São Silvestre do automobilismo mundial. Vale quase tudo, e há desde quem lute de forma enfática pela vitória como quem quer apenas encarar a maratona e sair inteiro para contar história. Acha que é exagero? Pontos como os já lendários Flugplatz (pista de decolagem, dá para entender o motivo) e Karussel fazem as máquinas voar entre árvores a mais de 240 km/h com frágeis guard-rails de proteção.
Já contei a história no ano passado, mas sempre é atual, e vale para quem ainda não leu. Um dos principais nomes da história da prova, o austríaco Hans-Joachim Stuck (aliás, um dos mais impressionantes pilotos do automobilismo mundial) revelou, quando o parei para uma rápida entrevista, no GP da Europa de 1998: fazia questão de ter no cockpit um mapa em tamanho bem grande com os detalhes do percurso – por mais que tenha na memória cada centímetro da distância, por vezes, no calor da disputa, bate a dúvida. E ele falou sobre o lado acrobata que cada piloto, especialmente os mais rápidos, precisam mostrar. Do nada, quando menos se espera, na saída de uma curva cega, há um carro quebrado, outro lento, e não dá para descansar, contou. E eu me surpreendi quando seguia para o Südschleife (a pista que será usada novamente este ano pela F-1) e atravessei uma estradinha estreita, cheia de inscrições pintadas no chão e barracas de camping. Sim, era Dottinger-Höhe, um dos trechos que serão encarados pelos mais de 800 pilotos a partir de hoje. Uma festa que se justifica para quem corre (há equipes que fazem vaquinha em suas cidades para conseguir o dinheiro necessário e times oficiais de fábrica) e para quem assiste, à base da cerveja e do chucrute. Nurburgring Über alles!!!!
Em tempo, os dois representantes brasucas no desafio são os paranaenses Augusto Farfus, que integra o quarteto da BMW M3 GT de nº 1 (e, como a numeração indica, busca o bicampeonato, depois de brilhar ano passado) e Jaime Melo Júnior, que empresta a competência de piloto oficial da Ferrari para carros GT ao time Hankook Farnbacher, e acelera a F458 Italia nº2.